INFORMAÇÃO AO MÉDICO
A COLETA DO LÍQUOR
ANTES DA PUNÇÃO
CARACTERÍSTICAS PARTICULARES DO EXAME DE LÍQUOR
O exame de líquido cefalorraquidiano (LCR ou líquor) tem indicações precisas e de extrema importância na prática médica. A análise da amostra apresenta algumas particularidades em relação aos exames gerais de laboratório de análises clínicas: - devido ao ato da punção, que apresenta características invasivas e deve ser praticado por médicos Neurologistas ou Patologistas Clínicos de grande qualificação profissional e que possuam treinamento específico para tanto;
- devido ao caráter predominantemente de tipo fisiopatológico das alterações detectadas. Por isso, é necessário proceder ao exame sistematizado (fazer um conjunto mínimo de reações) em todas as amostras analisadas. A capacidade do exame de LCR em captar indícios e caracterizar síndromes (conjuntos de sinais e sintomas que, em conjunto, “fazem sentido”) freqüentemente é essencial para ajudar o clínico a montar o “quebra-cabeças” final.
- Frequentemente os reativos ou kits empregados no exame de LCR têm características especiais.
- O LCR exige trabalhar com alto grau de sensibilidade, o que, muitas vezes, implica em níveis menos satisfatórios de especificidade. Para contornar esta dificuldade, é necessária a utilização de reações em paralelo para pesquisar a mesma doença ou doenças que podem apresentar reações cruzadas com ela.
- O laboratório de LCR necessita fornecer ao médico assistente assessoria especializada para interpretar o resultado e, freqüentemente, para auxiliá-lo a definir estratégias de tratamento.
INDICAÇÕES DO EXAME DE LCR
Com o desenvolvimento das técnicas de neuroimagem, o exame do LCR tem indicações mais específicas. Há um consenso internacionalmente aceito sobre as indicações do exame do LCR. Entre elas, estão: - processos infecciosos do sistema nervoso e seus envoltórios, incluindo meningites, mielites ou meningoencefalites (agudas, subagudas e crônicas);
- processos granulomatosos que apresentem imagens inespecíficas;
- processos desmielinizantes, para estudo imunológico;
- demências;
- vasculites;
- leucemias e linfomas, para estadiamento e tratamento;
- alguns tipos de neoplasias, para estadiamento e para quimioterapia intratecal;
- condições de imunodeficiência, particularmente a AIDS, desde que haja queixas neurológicas;
- quadros infecciosos cujo foco não foi identificado, sobretudo em crianças e em unidades de cuidados intensivos;
- aplicação, por via raqueana, de medicamentos ou de substâncias utilizadas para fins diagnósticos;
- punção esvaziadora ou de “alívio” nos casos de hidrocefalia a pressão normal e hidrocefalia comunicante de qualquer etiologia;
CONTRA-INDICAÇÕES DO EXAME DE LCR - vigência de hipertensão intracraniana ainda não investigada por outros métodos diagnósticos;
- vigência de síndrome de hipertensão intracraniana com efeito de massa, tipo tumoral, qual seja sua patogênese;
- vigência de discrasias sanguíneas que facilitem sangramentos (plaquetopenia, diminuição do tempo de protrombina), mesmo quando decorrentes de tratamento anticoagulante.
- infecções cutâneas na região lombar, nos pontos em que pode ser feita a punção;
- bacteremia, quando não há ainda controle adequado das condições gerais do paciente, sobretudo antes da instalação da antibioticoterapia. O pertuito aberto pela agulha pode servir de porta de entrada para o agente infeccioso atingir o SNC;
- hipotensão acentuada do LCR responde pela impossibilidade de colher amostra, apesar da sensação de se atingir o espaço sub-aracnóideo (punção branca).
O PREPARO ANTES DA PUNÇÃO
Como a punção é procedimento com características invasivas, o paciente ou seu responsável deve ser informado quanto à natureza e riscos da punção, e claramente expressar seu consentimento, por escrito sempre que possível. No Anexo-1 encontra-se o texto que preconizamos para o termo de consentimento, aprovado pelo Departamento de LCR da Academia Brasileira de Neurologia.
CUIDADOS EM RELAÇÃO À PUNÇÃO
O ato da punção é um ato médico e deve ser feita por especialistas. Uma vez indicado o exame, devem ser observados os cuidados básicos para prevenir acidentes evitáveis: - utilização de auxiliares treinados para manter o paciente na posição requerida para a punção;
- escolha adequada da via de colheita;
- antissepsia local com antisséptico de ação rápida e que seja incolor (álcool, de preferência), não precedida de tricotomia local por raspagem;
- escolha de agulha provida de mandril, adequada para punção: (a) tipo Quincke, com ponta em bisel curto ou; (b) tipo “ponta de lápis” ou “atraumática”, com ponta cônica;
- posicionamento correto do paciente e do examinador em relação ao plano de punção;
- posicionamento correto da agulha, com o bisel em posição paralela ao plano sagital cranio-caudal do paciente;
- ir esclarecendo o paciente durante a punção, tranquilizando-o.
- reinserir inteiramente o mandril da agulha antes de proceder sua retirada
CONDIÇÕES ESPECIAIS
Em situações particulares é necessária a utilização de analgesia ou sedação. Destacam-se entre elas:
- aplicações frequentes de medicação intratecal, sobretudo em crianças e idosos;
- neoplasias e outras patologias com componente álgico importante;
- agitação ou torpor.
O médico pode suspender ou adiar a colheita, como na vigência de:
- condições que contra-indiquem a punção;
- hipotensão do LCR;
- ansiedade excessiva do paciente.
LOCAIS ONDE SE PODE FAZER A PUNÇÃO
Quatro são as punções que podem ser utilizadas para a colheita de LCR:
- lombar (L);
- sub-occipital (SO);
- ventricular (V);
- cervical lateral (não faz parte da rotina, sendo utilizada em raríssimas ocasiões).
Preferencialmente, as punções são feitas estando o paciente deitado:
- em decúbito lateral, para as punções lombar (LD) e sub-occipital (SOD);
- em decúbito dorsal, para a punção do ventrículo lateral direito (VD) ou ventrículo lateral esquerdo (VE).
A punção lombar com o paciente em posição sentada (LS) é utilizada em determinadas situações, como:
- quando o paciente (especialmente na infância) não coopera suficientemente para a punção;
- houve falha em atingir o espaço sub-aracnóideo lombar com o paciente em decúbito lateral;
- quando se deseja sensibilizar determinadas provas manométricas.
A punção lombar com o paciente em decúbito lateral (LD) é feita no plano mediano através dos espaços inter-apofisários vertebrais (L3-L4, L4-L5 ou L5-S1) e por ela se atinge o espaço sub-aracnóideo lombar (fundo-de-saco lombar).
A punção SOD é feita no plano mediano, abaixo da escama occipital e acima da primeira apófise vertebral cervical palpável, de modo a atingir a cisterna magna. Esta punção só deve ser praticada por médico devidamente habilitado para a sua realização.
A punção ventricular é feita para atingir um dos ventrículos laterais (VE ou VD). É realizada no plano paramediano craniano, lateralmente distante cerca de 2 cm da área de localização do seio longitudinal superior, em ponto equivalente ao ângulo lateral da fontanela bregmática.
- para injeção intraventricular de antibióticos ou quimioterápicos, recomenda-se a instalação neurocirúrgica de sistema provido de câmara, como as de tipo Rickham ou Ommaya.
ESCOLHA DA AGULHA
A escolha da agulha é um dos pontos essenciais para o conforto do paciente e para o sucesso da colheita.
A dor decorrente da introdução da agulha não varia de modo significativo com o seu calibre nem com o fato de usar-se ou não agulha-guia, essencial no caso das agulhas em ponta de lápis.
As agulhas em bisel, utilizadas rotineiramente, podem ser de 4 calibres: 21G, 22G, 23G ou 25G.
- as agulhas 21G não devem ser utilizadas rotineiramente, porque: (a) são acompanhadas de cefaléia pós-punção com freqüência substancialmente maior; (b) ocorrendo a cefaléia, esta é de mais difícil manejo: é mais intensa e persiste por maior período de tempo.
- devem ser utilizadas, como norma, agulhas com calibre máximo 22G em todos os pacientes.
- entretanto, em pacientes muito obesos ou em maiores de 60 anos, podem ser utilizadas com segurança as agulhas 21G. Nestes pacientes, o risco de cefaléia pós-punção é muito menor. - podem ser utilizadas agulhas 25G nos pacientes muito magros ou naqueles que tiveram cefaléia pós-punção anteriormente. São agulhas muito finas e muito flexíveis, daí resultando a dificuldade na sua utilização. Para maior firmeza, a critério do médico executante, pode ser utilizada agulha-guia (agulha de punção venosa 21G) semelhante àquela utilizada para punção com as agulhas “atraumáticas”. Nesse caso, introduz-se a agulha-guia para passar os planos superficiais e, a seguir, a agulha 25G pelo interior daquela. Este procedimento requer treinamento específico antes de ser usado na prática.
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- entretanto, em pacientes muito obesos ou em maiores de 60 anos, podem ser utilizadas com segurança as agulhas 21G. Nestes pacientes, o risco de cefaléia pós-punção é muito menor.
- podem ser utilizadas agulhas 25G nos pacientes muito magros ou naqueles que tiveram cefaléia pós-punção anteriormente. São agulhas muito finas e muito flexíveis, daí resultando a dificuldade na sua utilização. Para maior firmeza, a critério do médico executante, pode ser utilizada agulha-guia (agulha de punção venosa 21G) semelhante àquela utilizada para punção com as agulhas “atraumáticas”. Nesse caso, introduz-se a agulha-guia para passar os planos superficiais e, a seguir, a agulha 25G pelo interior daquela. Este procedimento requer treinamento específico antes de ser usado na prática.